Desenvolvimento Histórico do Ensino e Educação Matemática
As
primeiras manifestações do desenvolvimento da Educação Matemática começaram a
partir das necessidades práticas impostas pelo contexto social que participaram
do processo de conhecimento matemático, sendo que ao decorre de todo o percurso
o “ensino do conhecimento matemático esteve associado à produção” Gerdes
(1991). As primeiras ideias sobre matemática apareceram no período Paleolítico
através de representações de pinturas que demonstravam a natureza (animais,
pessoas e objetos), já no período Neolítico as pinturas tomaram representações
ligadas a simetrias e congruências Eves (1969,1992). Neste mesmo período surge
também o conceito de número, que mudou a forma de comunicação do homem, mesmo
com lenta evolução.
O
interessante é que, apesar de todo esse processo de transformação e evolução da
sociedade, com os novos artefatos de comunicação criados, não poderiam ser
multiplicados (transmissão de conhecimento) se não houvesse nas sociedades a existência
de alguma “Educação”. Que segundo Miorim (1998 apud Ponce, 1983) a educação
neste período se dava nas comunidades primitivas, sendo o ensino considerado
para vida e por meio da vida, mostrando que toda a educação era para
sobrevivência de suas comunidades. Como consequência dessa evolução nas
sociedades e com a transformação de novos conhecimentos em suas aldeias,
começamos então ter uma educação direcionada para a organização de tarefas
voltadas para grupos (distribuição de alimentos, sistemas de irrigação,
registro de tempo, cura de doenças e proteção da aldeia). Assim, à educação começa a ser
diferenciada entre os povos das aldeias, passando a ter um tratamento que,
segundo Miorim (1998), “intencional, sistemática, organizada, violenta e
sapiencial”.
No
entanto, com o crescimento das
cidades e a necessidade da educação para a população, surge à distinção entre
os ensinos, em que os progressos científicos associados à ciência (Matemática,
Astronomia e a Medicina), eram somente atribuídos para os filhos dos
governantes (nobreza) ao qual destinavam para formação de futuros dirigentes. Miorim
(1998) considerava este tipo de educação como castigos, correção para alunos
preguiçosos, indisciplina, memorização através de repetições de textos
escritos. Neste período os conhecimentos matemáticos voltados para o ensino eram
a aritmética e geometria prática, colocando a Matemática como papel importante
na formação de qualquer individuo.
Com
o decorre do tempo a Educação Grega adquire um avanço no valor ao conhecimento da
escrita e da matemática na formação de seu povo, e a educação matemática grega
começa a crescer dando os primeiros sinais da matemática abstrata, tornando-se
reconhecida como elemento de grande valor formativo pela escola de Pitágoras.
Neste mesmo período da antiguidade clássica, os Sofistas introduzem o ensino da
matemática em ciclo de estudos que era equivalente ao nosso ensino superior indiciando
assim a formação das escolas.
Durante
os séculos V e XV o ensino cientifico começa a perder o seu valor na Educação
Ocidental, passando-se por
desnecessário para formação intelectual. No entanto, inicia-se o crescimento da
Educação religiosa, que teve como formação o clérigo, leituras de textos
sagrados, concentrando-se de toda sabedoria na bíblia. Os ensinos se detêm nas
sete artes liberais: trivium
– gramática, retórica, dialética / quadrivium – aritmética, geometria, música e
astronomia. Segundo Miorim (1998), apesar do desaparecimento da matemática
neste período, seu desenvolvimento continuou através dos chineses, hindus,
persas e árabes que contribuíram de forma importante para seu crescimento.
Com
os avanços das atividades comerciais e industriais os estudos sobre a formação
clássica voltam aparecer através das escolas práticas e laicas com os cursos de
aritmética prática, álgebra, contabilidade, navegação e trigonometria, através de
aulas ministradas por mestres autodidatas. Paralelo ao desenvolvimento desta
ciência ocorre à
emersão de um novo conhecimento intelectual inovador: o “humanismo”, que tinha
como tratado formar homens livres, e que segundo Paolo Vergerio, dizia alcançar
e praticar a virtude e a sabedoria. Entretanto o novo tipo de homem neste
período foi o comerciante, o industrial, e o banqueiro, tornando-se um período
de educação profissional.
À medida que as grandes cidades cresciam com o
deslocamento da população para os grandes centros e indústrias, com suas
máquinas decretando o avanço tecnológico e o aparecimento da ciência moderna
avançada, a educação não assumia o mesmo papel, sendo necessária uma reformulação
no sistema educacional, surgindo assim, uma separação entre escola e trabalho, os que pensavam e os que
faziam. O ensino secundário começa então a desenvolver-se, mesmo que de forma
lenta, inserindo os estudos das ciências modernas nas escolas secundárias e fazendo com que os
defensores das disciplinas mais modernas questionassem a importância da
matemática pelo fato de ser pouco utilizada na vida diária. Deste modo, a
implantação de novos sistemas escolares e a ampliação dos quadros de
professores começam a destacar-se.
As
primeiras mudanças deste descompasso começam a aparecer nas universidades através
do ensino recebido pelos professores em suas formações, que não eram
compatíveis com o exigido pela escola secundária. O movimento de renovação do
ensino, mesmo que lento, obteve modificações em vários outros países como
Itália, Inglaterra e Alemanha tendo como grande protagonista dessas mudanças o
matemático Felix Klein, que se importava com o ensino da matemática
universitária propondo formações mais adequadas, com significados e sentidos em
suas aplicações. Klein ainda tinha uma forte preocupação com a formação dos
futuros professores. O que fez com que contribuísse com várias alternativas de
melhorias, sugerindo e discutindo mudanças no sistema educacional, que
posteriormente percorreram por vários países, gerando mudanças neste sistema.
Felix
Klein influenciou as mudanças no sistema educacional, mas essas mudanças
começaram a ocorre através do Primeiro Movimento Internacional para
Modernização do Ensino da Matemática (PMIMEM), em que Klein teve grande
importância na participação do evento através das comissões de ensino formadas por professores
e pesquisadores.
Após
o PMIMEM algumas das propostas de mudanças começaram a surgir nos ensinos de
vários países. No Brasil o ensino de Matemática da escola secundária, tinha
como sistema de ensino a Reforma Campos e neste momento o Brasil tinha grandes
dificuldades para as implantações sugeridas nos eventos internacionais. Durante
duzentos anos ou mais, o ensino brasileiro teve suas pedagogias atribuídas aos
Jesuítas, que tinham como professores os
padres. No entanto, este sistema de ensino começou a perder forças com a
reforma das aulas régias que ofereciam três disciplinas matemáticas: aritmética,
álgebra e geometria. Porém esta situação não foi bem aderida, pois os alunos se
matriculavam e retiravam-se das aulas, devido a falta de pedagogia dos professores e aos horários que
eram distribuídas as disciplinas, gerando um caos no sistema educacional.
Entretanto,
o caminho de modernização trouxe a criação dos liceus, que tinha como objetivo a
preparação para as escolas militares e a construção do Colégio Pedro II como
sistema de ensino gradual de 1ª a 8ª série. Mas, em 1890 novamente o ensino educacional
brasileiro passa pela Reforma Benjamin Constant baseado na estrutura filosófica
de Conte, que tinha como proposta algumas mudanças para preparação das
carreiras de Direito, Medicina e Engenharia. Uma nova escola e novos movimentos
junto à modernização começam a emergir na Educação Brasileira com a criação da
Associação Brasileira de Educação em 1924.
Em
1932 com as novas propostas apresentadas pelo Colégio Pedro II, as escolas
secundárias começam incorporar ideias como o currículo seriado, mudanças no
currículo da matemática, desenvolvimento da cultura espiritual, capacidades de
resolver e agir, eliminação da memorização e introdução ao conceito de função
que Felix Klein lutou tanto em suas pesquisas para ser inserido nas aulas.
Todavia, todas essas mudanças não foram bem recebidas pelos professores devido
à falta de material didático, excesso de assuntos, entre outros, mas para que o
sistema de ensino melhorasse era necessário enfrentar essas dificuldades.
Ao
final dos anos de 1950 e inicio de 1960, as pesquisas e propostas de Marshall
Stone através do Seminário Royaumont influenciaram vários outros projetos de
novas reformas no ensino da matemática pela América Latina. No Brasil um dos
projetos que movimentou a modernização do ensino da matemática foi a Ford
Foundation e Rockefeller Foundation com participação de alguns professores em
seus estágios.
Os
estágios tinham como objetivo mostrar a modernização que articulavam o ensino da
matemática nos Estados Unidos. Com a volta desses professores, Osvaldo
Sangiorgi se destacou no Movimento da Matemática Moderna (MMM), contribuindo
com a criação do Grupo de Estudo de Ensino da Matemática (GEEM), impulsionando
as publicações de livros didáticos com a Coleção “Matemática – Curso Moderno”
considerado o livro de maior divulgação da época que ampliou a divulgação do
MMM através do Jornal Folha de São Paulo. Este período foi marcado também por
congressos, programas de ensino, cursos de formação de professores, criações de
outros grupos de estudo e várias implicações políticas no sistema de ensino
dentre vários outros movimentos.
A
década de 60 também foi marcada pelas reuniões, congressos e pelas instituições
de ensino fazendo aprovações de leis e diretrizes que modificassem o sistema de
ensino. Ao decorre dessas implementações de leis no currículo brasileiro, foram
acontecendo várias mudanças, como, a lei 5962/71 que aprovava o primeiro grau obrigatório
de oito anos, e a utilização da “linguagem moderna” com as questões de
verdadeiro ou falso. Mas essas movimentações
não ocorreram em todos os estados brasileiros, considerando-se uma mudança
gradativa, pois em 1961 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
dava total autonomia aos Estados para produzirem seus próprios planos de
ensino.
Diferente do Brasil, em que o MMM não teve
planejamento pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) ou mesmo a Secretária
de Educação, em Portugal suas propostas e planejamentos antes de serem
executados tinham todo apoio do Ministério da Educação. Com isto, percebemos
que se o Brasil tivesse se preparado melhor para os projetos e planos para a
Educação de seu país, hoje poderíamos estar em um grau mais favorável em
relação aos demais países, considerando a avaliação feita pelo PISA (Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes).
Concluo
observando que, o ser humano a todo o momento está evoluindo, e se olharmos
para o inicio da história do desenvolvimento da educação, vemos o quanto a
educação faz parte desses objetivos em todos os momentos de progresso da
humanidade e em qualquer país. Para preparar uma nova cidade estruturada para indústria
e o comércio, precisávamos de movimentação bancária, saúde e vários outros
artefatos que possuíam grande importância em suas devidas épocas, a fim de que
tudo crescesse em conjunto com a cidade. Sendo assim, se não houvesse a
“Educação” para treinar e preparar os cidadãos dessas cidades talvez não
houvesse todo este crescimento. Ainda há muitos lugares do mundo que a Educação
não progrediu, pois as cidades também não progrediram em suas propostas. Para
não citar temas políticos e econômicos, concluo que o processo é árduo, por
isso a educação sofreu e ainda sofre para se adaptar com as modalidades
exigidas pela sociedade, tendo como um exemplo a educacional tecnológica nas
escolas que ainda sofre
dificuldades em sua implantação até o momento por partes da falta de formação
dos professores.
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